O tema da peça “Lembranças de Outras Vidas” é a grande afinidade existente entre os espíritos, o que faz com que se encontrem em vidas sucessivas, vivendo diferentes formas de amor.
Vitor é um bailarino que está representando seu espetáculo. Ele representa um homem em busca dos seus verdadeiros sentimentos. A saudade e a angústia o envolvem, pela falta de “algo” que ele não define. Os sentimentos de amor e paixão se confundem dentro deste homem, provocando sérias reflexões.
Neste momento, surge à sua frente uma luz, balsamizando seu coração e retirando de dentro dele os pensamentos sombrios. Ele parte em busca dessa luz com desespero, tentando tocá-la, sem nem mesmo saber sua natureza. Sente-se envolvido, mas não se entrega. Percebe o benefício que ela pode lhe trazer, mas o medo do desconhecido lhe impede de banhar-se desta luz e este mesmo medo faz com que ele recue, voltando ao vazio que o aprisionava.
Cansado e inerte, ele sente a forte presença que acompanha a luz que o atrai. Influenciado por essa presença e atraído por essa luz, ele tenta uma nova aproximação. Agora, com gestos mais lentos, demonstrando mais amadurecimento, ele dança, circundando essa luz como quem investiga. Aos poucos vai se despojando das veste do homem velho e quando, definitivamente, deixa-se invadir por ela, uma alegria infinita o envolve. Ele explode de amor e felicidade. Esse amor que ele sente é o verdadeiro amor espiritual.
A entidade que o envolve é um espírito de grande afinidade com ele, e a luz que ele procurava é a do conhecimento, que lhe traz a felicidade de ter entregado seu coração à Deus.
Depois que Vitor se apresenta, volta para seu camarim. Ali, o espírito desmaterializado de Helena e sua mentora iniciam uma aproximação maior. Entre passes para preparação de Vitor e atitudes de carinho por ternas recordações que ele lhe traz, Helena se coloca à disposição de sua mentora para a materialização.
Helena é materializada e Vitor a vê. Espantado com a sua presença no camarim, cuja porta estava fechada, ele inicia um interrogatório do qual Helena se esquiva com afirmações espirituosas e esclarecedoras, mas que Vitor, desconhecedor das verdades sobre a vida espiritual, não entende, ao contrário, se intriga.
Entre outras perguntas, ele quer saber como ela se chama, logo após ela declarar-se sua fã. No intuito de provocar-lhe lembranças, ela lhe pede que escolha um nome. Vitor suspeita que Helena esteja comprometida com alguém e por isso queira esconder-lhe a identidade. Ela sorri e esclarece que quer apenas saber que nome ele lhe daria. Vitor se entrega à inspiração e decide chamá-la de “Helena”, justificando o nome por considerá-la tão amada quanto Helena de Tróia, quando, na verdade, esse era seu nome na última existência dos dois juntos.
Helena percebe que ele será levado à primeira lembrança e aproxima-se para auxiliá-lo, dividindo com ele as recordações de uma existência onde os dois haviam se enamorado, contrariando os compromissos assumidos por ele com sua esposa. O instante vivido por eles é o da separação, quando Helena o convence do erro e propõe que se rompam os laços afetivos que os ligam fisicamente e lhe promete amor pela eternidade.
Voltando do transe, Vitor se declara envolvido por lembranças estranhas. Admite que tem a sensação de conhecê-la. Diz ter sentido muitas paixões, mas nunca ter amado, profundamente, alguém. Ela, entre emocionada e constrangida, se despede, prometendo voltar a vê-lo, noutra oportunidade.
Quando ela vai sair, Vitor a chama pelo nome escolhido e ela volta, pressentindo uma nova lembrança. Ele sente um vazio no peito. Helena lhe pergunta sobre sua mãe e ele confessa ter sido abandonado quando pequeno. Ela faz referência “àquela” que foi sua mãe em outra existência. Vitor estranha a observação e sorri. Ela o envolve com um beijo carinhoso na fronte e despede-se.
Ele a chama de volta, admitindo não querer ficar só e confessando estar apaixonado por ela. Helena adverte que as paixões são sentimentos volúveis e que só o verdadeiro amor é que prevalece a todas as vicissitudes, inclusive a morte. Ele ouve seus conceitos com muito carinho e retifica a declaração admitindo ser amor o que ele sente. Ela convida-o a deitar-se no seu colo para descansar, pois percebe que é chegado o momento de serem levados a mais uma lembrança.
Os dois passam a ser mãe e filho e revivem outro momento de separação, quando ela precisa confessar ao filho que está às portas da morte e convencê-lo a ficar com o pai, que para ele é um estranho, até então.
Vitor volta desta regressão muito mais envolvido afetivamente por aquele espírito que ele não consegue identificar de todo, por lhe faltar conhecimentos sobre a vida após a morte.
Emocionado às fibras mais íntimas do seu coração, ele tenta beijá-la, mas Helena se esquiva, afirmando não ser aquele o amor que ela espera dele e lhe promete, mais uma vez, amá-lo pela eternidade.
Ele a convida para dançar, com o intuito de aproveitar o pouco tempo que lhes foi concedido, ainda sem entender porque ela sempre faz menção ao tempo. A música os envolve e o momento de mais uma regressão é chegado.
No final da dança, Vitor e Helena são irmãos, dois homens, quando o espírito de Helena era um líder político, inválido, traído pelo irmão (Vitor) nos seus propósitos de luta pelo povo que se dedicara durante toda sua vida. O irmão o traíra para adquirir melhores recursos para cuidar do inválido, mas esse o acusava de ser egoísta, fazendo-o ver que a invalidez do corpo nada significava. Era um momento doloroso, onde as formas de amor se confundiam e o conceito de dever era visto por cada um ao seu modo.
Neste momento de conflito os dois retornam da regressão. Vitor confessa não poder afastar-se de Helena e ao mesmo tempo se incomoda com as lembranças e a falta de explicações por parte dela. Irritado, ele a pede que vá embora. Como ela não se retira, ele sai, deixando-a sozinha e imensamente abatida.
Helena interpreta um poema onde exprime todos os seus sentimentos e, quando se sente enfraquecida, percebe a presença de sua mentora. Ela tenta convencê-la de que é melhor partir, mas Helena pede por mais um pouco de tempo. Ela concede e convida-a à uma oração. As duas oram juntas e a mentora informa que Vitor está voltando.
Quando ele chega, pede desculpas e declara ter lembranças da última encarnação dos dois juntos, quando foram marido e mulher e Helena desencarnara no parto do primeiro filho.
Só então, revivendo estas lembranças, ele a reconhece, definitivamente, como sendo o espírito a quem vem se ligando, afetivamente, por muitas encarnações e então, ele a indaga o porque da visita. Helena esclarece que a intenção era que ele percebesse a existência da vida após a morte. Explica que, através do amor sublimado em todas as existências que ele recordou, os dois haviam resgatado erros cometidos em vidas anteriores e que, agora, estavam prontos para viverem o amor na sua forma mais pura.
Após os esclarecimentos de Helena, Vitor compreende tudo, porém reluta um pouco em deixar que ela vá embora. Ele teme a saudade, porém, ela deixa-lhe a certeza de que em cada momento que ele se dedicar aos estudos da vida espiritual ela poderá estar ao seu lado e que estará esperando por ele, na hora certa.
Os dois se despedem, certos de que muito em breve, poderão estar juntos novamente.
Por: Marilia Danny
foto: Cia Vida